Violência no bairro do Ibura, em Recife, altera local de atividade do Usina de Valores

O Usina de Valores é um projeto que acontece em três diferentes cidades do Basil: São Paulo, Recife e Rio de Janeiro. Nas três regiões, nossa proposta é desenvolver atividades formativas e eventos nas periferias dos três locais.

Durante 2018, nossa tarefa é promover encontros, diálogos e ambientes de aprendizado que fortaleçam e propaguem uma cultura de direitos humanos e combata o discurso e as manifestações de ódio.

Seguindo nosso objetivo, no próximo sábado, 16 de junho, realizaríamos uma roda de conversa e slam de poesia no bairro do Ibura, em Recife. Mas foi preciso mudar os planos. Agora, a atividade acontecerá no Parque Treze de Maio.

Localizado em uma região cercada geograficamente por morros e ladeiras, o Ibura é o terceiro maior bairro do Recife. Desde a última segunda-feira, 11 de junho, a região tem sofrido com brutais episódios de violência.

Na noite de terça, 12 de junho, um morador da Vila dos Milagres, que faz parte do Ibura,  foi morto a tiros. O Jornal do Comércio noticiou que Paulo Ricardo Santos de Santana, 34, teve a casa invadida por quatro homens. Sua companheira e filha, de três anos, foram agredidas.

Também na terça-feira, a vigilante Patrícia Conceição, 33 anos, passou por uma tentativa de homicídio. Ela caminhava na Comunidade do Caíque, na Vila dos Milagres, quando foi abordada por quatro homens encapuzados e levou um tiro no pescoço. Patrícia foi encaminhada para o Hospital da Restauração (HR), no centro de Recife.

Segundo a Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas (RENFA), organização parceira e integrante do Usina de Valores , a região tem enfrentado frequentes confrontos armados, invasão de domicílios, violência física e mortes.

Em nota, o coletivo repudia o ciclo que violência e destaca a atuação violenta do estado, representado pela polícia. Além disso, contextualizam a atual onda de violações com o histórico descaso que a população vivencia.

“As ações efetuadas por agentes de segurança pública e grupos armados vem acontecendo durante a semana em diferentes horários de circulação intensa de moradores, afetando de forma grave principalmente os trabalhadores e trabalhadoras que moram na comunidade e colocando na mira do cano o grupo social do projeto de genocídio do Estado: A juventude negra!”, diz o texto.

O Usina de Valores faz coro ao posicionamento da RENFA e exige que medidas sejam tomadas para que as moradoras e moradores do bairro do Ibura exerçam o seu direito ir e vir de suas casas. Dignidade Humana e o Bem-Viver são dois dos valores essenciais que norteiam não só nossas atividades, mas nossa perspectiva de vida.

A vida dos nossos jovens, mulheres e homens que moram e transformam as periferias das cidades não podem ser desumanizadas e subalternizadas. A violência não pode ser naturalizada.

Leia a nota na íntegra

A Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas escreve essa nota para manifestar a indignação e preocupação com a situação de guerra instalada no bairro do Ibura. O Ibura é um dos bairros localizado no território sagrado dos morros recifenses, tem cerca de 50mil pessoas, e assim como em vários morros da cidade, o Ibura é fruto das ocupações intensificadas na década de 60, abrigando famílias pobres removidas de áreas centrais da cidade, vítimas da higienização social, que assim como todo povo pobre, que viveu essa gentrificação, mas ressignificou o bairro com luta, amor e resistência.

Hoje o Ibura abriga vários coletivos de luta social, coletivos de cultura, de poesia, organizações comunitárias, mais de 40 associações de bairro, e várias ativistas dos direitos humanos, artistas, produtoras, líderes comunitárias, gente que faz do bairro um lugar que não deixa os sonhos morrerem.

Nos últimos dias o Ibura tem vivenciado a face mais perversa do projeto genocida do Estado, o bairro que assim como toda favela urbana é alvo da violência institucional executada pela força armada da polícia, vem enfrentando um clima de guerra, desde segunda (11.06.18) foram diversos os confrontos armados e ações violentas no território, que resultaram em mortes, pessoas feridas por armas de fogo e agressões físicas.

As ações efetuadas por agentes de segurança pública e grupos armados vem acontecendo durante a semana em diferentes horários de circulação intensa de moradores, afetando de forma grave principalmente os trabalhadores e trabalhadoras que moram na comunidade, e colocando na mira do cano o grupo social do projeto de genocídio do Estado: A juventude negra!

Quatro jovens mortos, vários carros da polícia circulando o bairro dia e noite ameaçando moradores, invadindo e revirando casas sem ordem judicial, coagindo até mesmo quem está dentro de casa, espaço que é violado diariamente pelo contexto de guerra nas favelas.

Em Pernambuco até esse mês morreram mais 360 pessoas, a banalização da violência, é um fenômeno crescente entre a população que não se comove com o corpo de jovens negros ensanguentados, mas se revolta a qualquer ameaça a propriedade privada. O genocídio do povo negro é projeto racista da burguesia que desde a escravidão deseja controlar nosso povo com violência.

A proibição das drogas é o motivo usado pelo Estado para autorizar a polícia a violar direitos, matar pessoas e prender inocentes diariamente nas periferias de todo Brasil, todos os dias têm violação de direito nas periferias, morros e favelas das cidades. Além de lidar com a ausência de comoção dos governantes da mídia local e da população a favela se depara com o silêncio revoltante das organizações, movimentos sociais, parlamentares e pessoas que diariamente se colocam como defensores dos direitos humanos, mas que não tem se incomodado com os apelos feitos por moradores do bairro Ibura durante toda essa semana.

Convocamos a todos os movimentos sociais e organizações que são parceiros nessa luta, e que reconhecemos com grande poder de articulação e mobilização, para fazer a defesa da VIDA do povo que mora no Ibura e todas as comunidades pobres, que vem sendo violadas. É urgente causar a comoção da população pelas vidas das crianças, mulheres, jovens negros e moradores desses bairros.

Exigimos que essa guerra acabe, que as autoridades legislativas, executivas e judiciárias se manifestem e assumam sua responsabilidade pela retirada do braço armado nos territórios, e a garantia do fim desse confronto violento. Exigimos a igualdade de condições para combater essa lógica racista e repressora, não admitimos um mundo onde as armas que chegam nas mãos das crianças nas favelas tenham mais tempo e trajetória de vida que elas. CONTRA O GENOCÍDIO, NENHUM PASSO ATRÁS!

Esse texto foi escrito com o depoimento e diálogo com pessoas que moram nas comunidades do Ibura.

1 comentário

  1. Sulamita Marlene da Silva de Souza em 17 de novembro de 2019 às 22:48

    Fico triste de ler textos como esse, de um lugar em que fui criada…
    Toda minha infância foi no Ibura UR1, na Avenida Campina Grande, estudei na Grupo Escolar Maria de Sampaio Lucena e depois no Jordao Emereciano. Saldades… hoje sou professora em São Paulo.
    Estarei orando pra que o Ibura seja um lugar de paz e prosperidade.

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