A potência de novas vozes e línguas para construir novas narrativas

Quem são as vozes insurgentes e as línguas indomáveis do nosso tempo? Para a escritora transfeminista Maria Clara Araújo, essas vozes e línguas são negras, feministas e LGBTs, compromissadas com a transformação social e com a representação justa das identidades em cada espaço.

Essa tese foi o ponto de partida para os diálogos produzidos na oficina “Vozes insurgentes e línguas indomáveis”, do Usina de Valores, realizada nestes mês de agosto no Museu da Diversidade em São Paulo. Maria foi a responsável por ministrar a atividade e mostrar o papel e a importância de novas narrativas individuais e coletivas.

“Quando a gente pensa afrotransfeminismo, feminismo negro, a gente está pensando sobre batalhas narrativas. E a gente está falando sobre a quebra de uma compreensão dos sujeitos a partir de um viés universalizado, a partir de um viés homogêneo. Quando a gente fala o sujeito negro, que sujeito negro que a gente está falando? Quando a gente está pensando sobre pessoas trans, quais são essas pessoas que estamos falando, quais são as pessoas trans que a história está sendo contada?”, questiona.

A partir de seu lugar de fala enquanto mulher negra transsexual, Maria trouxe suas principais referências acadêmicas e da produção textual para a roda de conversa. Nomes como Grada Kilomba, Audre Lorde, bell hooks e Glória Anzaldúa contribuíram para a construção de Maria enquanto escritora quanto para sua formação política e individual. Maria também pontua como isso pode acrescentar para que outras vozes se manifestem na busca por identidades plenas e por uma sociedade mais justa.

“É um momento de eu compartilhar com outras pessoas quais são minhas referências, qual é o meu norte, quem me diz quais são as questões que eu devo me defrontar politicamente, em relação a batalhar, a me colocar politicamente. E o saldo é extremamente positivo quando eu olho para os textos que eu trouxe e eu vejo mulheres negras produzindo conhecimento, questionando narrativas únicas e propondo um novo modelo de sociedade”, afirma.

A partir das discussões e dos casos apresentados, o reconhecimento das narrativas tradicionais em contraposição às novas possibilidades de fala se destacou como um dos pontos mais importantes da atividade.

“Com a oficina pude reconhecer-me nos textos de diferentes autoras negras. Saber que existem mulheres tão potentes como Audre Lorde, bell hooks, Angela Davis faz com que eu me sinta encorajada para expor as minhas produções acadêmicas e poéticas”, afirma Estela Cândido, musicoterapeuta e educadora do Usina de Valores em São Paulo.

No próximo dia 17/08 (sexta-feira), Recife recebe a oficina “Vozes insurgentes e línguas indomáveis”, a partir das 18h, no Edifício Pernambuco, para construir novos olhares e novas histórias. Saiba mais aqui.

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