Aula de convívio e afirmação de valores humanos

Os Direitos Humanos em Perspectivas Múltiplas foi o tema da aula aberta realizada pela Usina de Valores Caxias do Sul no sábado, dia 08 de junho, no Centro Cultural Adão Borges da Rosa, no bairro Eusébio Beltrão de Queiroz, um espaço de tensão social recorrente muito próximo ao Centro de Caxias do Sul, mas cotidianamente referido como periferia da cidade.


A abertura dos trabalhos provocou o público com frases que explicitam falas e valores em confronto no Brasil contemporâneo. Duas delas para explicitar a questão:


“Mãe, eu sei quem atirou em mim, eu vi quem atirou em mim. Foi o blindado mãe. Ele não me viu com a roupa de escola.” – Marcos Vinícius da Silva , 14 anos, morador da favela da Maré, morto a tiros em junho de 2018, na Favela da maré, no Rio.

“Quanto mais arma, mais segurança. Se tiver arma de fogo, é para usar.” – Jair Bolsonaro, há uma semana, durante almoço com caminhoneiros, em Anápolis.

Depois dessa introdução, a presidente do bairro, Miriam Machado, saudou a realização da Aula Aberta num espaço que, por muito tempo, foi desacreditado, mas, ao mesmo tempo, agora é motivo de orgulho da comunidade por estar vivendo momentos como este.

Na sequência, em sua saudação, Rogério Sotilli, diretor executivo do Instituto Vladimir Herzog, disse que era significativo que o encontro estivesse acontecendo naquele espaço. Falou da rede de ações que o Usina de Valores vem construindo em todo o Brasil e da importância de estar em Caxias, reunindo um grupo de ativistas e interessados no tema que, naquele momento lotavam o espaço. Destacou os valores que movem o projeto – Bem Viver, a Escuta, o Engajamento, a Dignidade e Coexistência – e sinalizou confiança e certeza que, a despeito do emergente discurso de intolerância e ódio, existem frentes positivas de avanço nessa
conjuntura adversa.

Nascido, criado e mobilizado pela “quebrada” do Beltrão de Queiroz, seu lugar de vida e de fala, o rapper Chiquinho Divilas contou um pouco sobre sua história e a decisão de fazer do estudo um recurso de inserção social e protagonismo através de projetos como o Cultura Hip Hop nas Escolas. Mestre e doutorando em Inclusão Social, faz do rima o rumo de sua ação socioeducativa, com o slogan O Ensino é a Cura.

O professou doutor em Filosofia, Mateus Salvadori, trouxe uma série de reflexões sobre direitos e valores à luz do pensamento filosófico, provocando o público ao exercício da alteridade.

Em seguida foi a vez de Ingrid Farias, Aceleradora Social, Coordenadora da Rede Nacional de Feministas Antiproibicionstas e Articuladora do Projeto Usina de Valores em Recife fazer sua intervenção. Destacou a luta das mulheres pretas, periféricas, que mantém um conjunto de articulações que só são possíveis na medida em que estabelecermos uma correlação de forças e lutas para a implantação de um outro estado de direitos políticos e
sociais. Assim, a lula pelos Direitos Humanos é, igualmente, uma luta no campo político.

O ex Ministro-Chefe da Secretaria de Direitos Humanos em 2015 e atual é Deputado Estadual pelo Rio Grande do Sul, Pepe Vargas, desatacou a realidade caxiense, cuja hegemonia da imigração italiana, hoje é desafiada a conviver com as novas levas de migrantes, vindos notadamente da África, é um dos grandes desafios aos caxienses no sentido do avanço e da criação
de Políticas Públicas de acolhimento aos novos migrantes. Questionou, ainda, por que a atual gestão pública oficializa, e permite a ocupação da rua, pela Marca Para Jesus, e ao mesmo tempo, impede que a Parada Livre, do movimento LGBTX, não possa sair às ruas.

Sintonia de ideias esteve presente na fala do vereador Rodrigo Beltrão, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, que destacou o tanto de inverdades proferidas por discursos estabelecidos e falácias sobre “kit gay” e outras variações de argumentos carregadas de preconceitos.

A Pastora Andreia Fernandes fez uma ode ao discurso de Jesus e sua pertinência na defesa dos direitos humanos. Destacou histórias de apagamento de identidades e falas em nome de normatizações e regras do capital estabelecido. Em fundamentalmente, deixou o recado de que amilitância pelos Direitos Humanos hoje deve de espelhar na grande tarefa
dos profetas bíblicos: denunciar as injustiças e anunciar novos horizontes de harmonia e convívio na diversidade, na inclusão das diferenças e na capacidade de construção de histórias de libertação amorosa.

Na abertura, a Aula Pública da Usina de Valores Caxias teve ainda a participação arrebatadora do Slam das Manas, um grupo emergente e potente na cena cultural caxiense que, com seus textos alusivos à condição do corpo feminino-etc periférico, agredido, violado em seus direitos, acossado e dilacerado. E, para fechar o encontro, Chiquinho Divilas apresentou o projeto Vozes Divilas, com meninos e adolescentes que já fazem do rap a sua linguagem de afirmação social.

Texto do jornalista Carlinhos Santos

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