Direitos e autonomia para pessoas que usam drogas: Conheça a Escola Livre, no Recife

Entidade foi parceira territorial do Usina de Valores no Recife no ano de 2022

A proposta é ampliar a redução de danos, uma estratégia de cuidados, valorização da vida e das potências de cada pessoa, levando em consideração as desigualdades que estruturam o contexto social brasileiro.

Há três anos, a Escola Livre de Redução de Danos tem sido um espaço coletivo de aprendizagens, trocas e vivências para fortalecer a autonomia e os direitos humanos de pessoas que usam drogas em Pernambuco. A proposta é ampliar a redução de danos, uma estratégia de cuidados, valorização da vida e das potências de cada pessoa, levando em consideração as desigualdades que estruturam o contexto social brasileiro. Esta abordagem entende o consumo problemático de drogas como questão de saúde e não de polícia.

“No primeiro ano do atual governo federal, tentaram dizer que essa política pública ia acabar”, relembra a psicóloga Priscilla Gadelha, agente redutora de danos e uma das cinco pessoas co-fundadoras do projeto coletivo sediado no Recife. Ela faz referência à nova Lei de Drogas de 2019, que prioriza tratamentos focados na abstinência e endurece a ineficaz “guerra às drogas”. Foi neste cenário que ela, Anamaria Carneiro, Ingrid Farias e Rafael West lançaram a Escola Livre de Redução de Danos. 

Apesar do contexto adverso, Priscilla fala com firmeza e entusiasmo sobre a iniciativa como parte de uma rede que, segundo ela, “potencializa a esperança de continuidade de um cuidado que não tutele, não leve à aprisionamento nem a violências”. A Escola Livre executa diversas ações, inclusive formações de redutoras e redutores de danos. Seu espaço físico concretiza a possibilidade de cuidado e de liberdade.

Desde 2021, o Centro de Convivência da Escola Livre RD abre as portas para atender a população de rua e pessoas que usam drogas no bairro Boa Vista, Recife. Há acesso a banho, área para lavagem de roupas, espaço para descanso, oficinas e debates, além de grupo de apoio entre pares, serviço psicológico, formações e orientações sobre cuidados e acesso a serviços públicos. Uma vez por semana, a área é reservada para acolhimento de mulheres cis e trans em situação de vulnerabilidade e suas crianças. 

“Os desafios imensos que vivemos estão também na dificuldade de se reconhecer a diversidade de pessoas e o quanto as diferenças são nossa potência. Enquanto a gente negar essa diversidade, estaremos fadados à falta de abundância”

Em 2022, a equipe da Escola Livre realizou um mapeamento latinoamericano sobre experiências de redução de danos com foco em gênero e raça. A Caravana Latino Americana de Política de Drogas e Intersecções estabeleceu conexões importantes para ampliar as possibilidades de mudanças num contexto intercontinental, passando por Uruguai, Argentina, Bolívia, Colômbia, Costa Rica e Equador.

No contexto nacional, a Escola Livre planeja ampliar seus espaços de acolhimento e focar na construção de alternativas diante do preocupante aumento da miséria e falta de direitos. Segundo Priscilla Gadelha, apresenta-se como grande problema atual a escassez de trabalhos que garantam dignidade, moradia e alimentação. Também é um desafio a reinvenção das próprias redes de saúde, educação, lazer e apoio, que muitas vezes reproduzem dinâmicas colonizadoras e excludentes. Outro desafio permanente é o combate à violência instituída pelo Estado contra as pessoas em situação de vulnerabilidade.

Por fim, a psicóloga ressalta um grande problema do período atual, relacionado com todos os outros: “Os desafios imensos que vivemos estão também na dificuldade de se reconhecer a diversidade de pessoas e o quanto as diferenças são nossa potência. Enquanto a gente negar essa diversidade, estaremos fadados à falta de abundância”. Abundância esta que, a despeito de todo o contexto atual, faz parte do dia a dia da Escola Livre.

Em parceria com a Escola Livre RD, o Usina de Valores realizou em Recife no ano de 2022 ações formativas como cursos de direitos humanos e oficinas “Produção de cards para mídias sociais”, “Comunicação comunitária e popular”, “Intervenção urbana: lambe-lambe” e “Cartografia participativa”.

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