8 filmes brasileiros para discutir direitos humanos

No último fim de semana, os olhos do mundo estivem atentos ao Oscar 2019. A cerimônia de premiação festeja anualmente as melhores produções cinematográficas do ano. Ao longo de 91 anos de história, a celebração foi capaz de mostrar a importância dos filmes na vida moderna.

Narrativas em geral são muito poderosas para compartilhar conhecimentos, emoções e valores. A comunicação é capaz de influenciar a percepção de mundo de quem faz parte desse processo de troca de saberes e informações.

Nesse contexto, filmes e produções audiovisuais são exemplos importantes. Assistimos nas TVs, na internet e seus serviços de streaming, nos cinemas, nos celulares, enfim, em qualquer tela possível.

Pensando nisso, o Usina de Valores separou 8 filmes brasileiros sobre direitos humanos para debater e assistir com a família, com os amigos e crushs da vida.

Uma história de amor e fúria

(Foto: Reprodução)

A animação retrata a história de um herói brasileiro imortal. Sua jornada se passa ao longo de quatro períodos diferentes em quase seis séculos da história brasileira e mostra sua busca pelo amor de sua vida, Janaína, que também reencarna em cada um dos momentos históricos retratados no filme.

Na primeira parte do filme, o protagonista vive na pele de Abeguar, um índio Tupinambá que defende as terras e a cultura indígena da dominação portuguesa e francesa no Brasil.

No segundo momento da história, o herói revive na pele de Manuel do Balaio, em 1838, no Maranhão. Manuel era um homem negro livre durante o período escravocrata e, ao lado de sua família, lidera a Revolta da Balaiada, para por fim à dominação branca na região.

A terceira parte da história se passa durante a ditadura civil-militar, nos anos 60. O protagonista torna-se um jovem estudante que se coloca contra o regime ditatorial brasileiro, ao mesmo tempo que luta pelo amor de Janaína. A história mostra a dominação militar e o crescimento das favelas nos morros do Rio de Janeiro.

O último momento histórico do filme acontece em 2096. O principal conflito social é o acesso à água potável. Ricos não têm dificuldades para adquirir água de qualidade, enquanto pobres não conseguem pelos preços altos.

O filme tem grande percepção das principais tramas sociais e históricas do Brasil, retratando o genocídio indígena, o racismo e as consequências da escravidão, o Estado autoritário e a latente desigualdade social.

Carandiru

(Foto: Reprodução)

Em 1989, Dráuzio Varella inicia um trabalho voluntário de atendimento de saúde, principalmente de prevenção e combate a AIDS, na até então maior casa de detenção da América Latina, o Carandiru. Quando o médico começou a trabalhar na penitenciária, havia cerca de 7 mil detentos para pouco mais de 5 mil vagas. Em seu trabalho diário, Varella conheceu não apenas a rotina e os anseios dos presos, mas também as histórias de suas vidas.

A partir dos relatos e histórias, o filme mostra problemas estruturais das cadeias brasileiras, como a superlotação, a violência de Estado e outras violações de direitos humanos que culminaram no massacre ocorrido em 2 de outubro de 1992. Na ocasião, 111 presos foram assassinados pela polícia.

O ano em que meus pais saíram de férias

(Foto: Reprodução)

O filme retrata a história de Mauro, um garoto de doze anos, fanático por futebol. Sua vida muda para sempre quando seus pais resolvem sair de férias de forma repentina e o deixam para viver com seu avô paterno em São Paulo. Na verdade, os pais de Mauro fugiam da ditadura civil-militar brasileira, por serem militantes de esquerda.

Ao se mudar para São Paulo, o menino é obrigado a encarar outro desafio: a morte inesperada de seu avô. Sozinho, Mauro acaba sob a tutela de Shlomo, enquanto espera a volta do pai e da mãe.

Sua vida varia entre a tristeza por estar longe dos pais e a alegria de acompanhar a campanha da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo de 1970, que acontecia no México naquela época.

A obra retrata de maneira pertinente o período da ditadura no Brasil, o contexto político acirrado e autoritário vivenciado por milhares de brasileiros. Além disso, também expõe os impactos que o regime tinha nos laços familiares e afetivos dos cidadãos.

Nise – O coração da loucura

(Foto: Reprodução)

“Há dez mil modos de ocupar-se da vida e de pertencer a sua época… Repetindo, há dez mil modos de pertencer à vida e de lutar por ela”.

A frase é de Nise da Silveira, médica psiquiatra brasileira, que influenciou os rumos da psiquiatria no país. O filme “Nise – O coração da loucura” retrata a época em que trabalhou no hospital Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, nos anos 40.

A história mostra as práticas violentas da psiquiatria da época, em que eletrochoques eram comuns no tratamento dos pacientes. Nise discordava dos métodos utilizados pela agressividade usada. Em conflito com os demais médicos por se recusar a utilizar métodos cruéis no tratamento, foi transferida para a esquecida ala de terapia ocupacional do hospital

Seu trabalho na nova ala propunha novos modos de tratar e olhar os pacientes do hospital, estimulando suas expressões e subjetividades através das artes e de outras atividades lúdicas.

Como resultado, os cuidados diferenciados e humanizados permitiram que os pacientes tratados como loucos fossem reconhecidos como os “artistas do Engenho de Dentro”. As obras produzidas pelos internos tomaram galerias da época e chamaram atenção do mundo das artes.

Ex-pajé

(Foto: Reprodução)

Este documentário traz a discussão sobre etnocídio a partir da história dos índios Pater Saruí, residentes de uma reserva indígena na Amazônia. A trama é centrada na figura de Perpera Saruí, ex-pajé da tribo.

Até 1969, quando houve o primeiro contato entre ps Saruí e os brancos, Perpera possuía respeito e admiração da tribo. Da mesma forma, as tradições culturais eram mais respeitadas e praticadas.

Quase 50 anos depois, Perpera não é mais Pajé e hoje vê como as tradições brancas tomaram conta de seu povo. Hoje boa parte dos índios vão à Igreja Evangélica, que tem um pastor branco, as crianças usam smartphones e tablets e outras tecnologias que remetem ao homem branco.

Uma mãe Saruí picada por uma cobra força a tribo a refletir sobre algumas questões. Sua quase morte obriga a família a recorrer às antigas tradições ritualísticas de seu povo na esperança de salvá-la.

É aí que Perpera aparece como figura central. Sua busca para retomar contato com os espíritos da floresta obriga a tribo a confrontar os valores evangélicos atuais com as tradições Saruí no contexto atual.

Cidade de Deus

(Foto: Reprodução)

Considerado um clássico do cinema nacional, Cidade de Deus aborda a ascensão da violência urbana nas favelas do Rio de Janeiro. Baseado no livro homônimo de Paulo Lins, o filme narra a formação do crime organizado no bairro da Zona Oeste carioca entre os anos 60 e 70.

A história é contada por Buscapé, protagonista do filme. O jovem deseja levar uma vida honesta mesmo diante da violência do crime organizado na Cidade Deus.

O filme mostra como o tráfico de drogas foi um importante motor da formação do crime organizado nas favelas. A narrativa também traz a desigualdade social latente do Rio de Janeiro, mesmo décadas atrás, a violência do Estado, seja pela polícia ou pela falta de políticas públicas para o desenvolvimento da população local.

Era o Hotel Cambridge

(Foto: Reprodução)

Um filme que mistura ficção e realidade para contar a história da ocupação do Hotel Cambridge. O prédio foi fechado e abandonado em 2011 e ocupado um ano depois por movimentos de moradia do centro de São Paulo.

A narrativa debate o direito à cidade e à moradia, a condição de vida refugiados no Brasil e até mesmo o ódio na internet.

A trama faz um ótimo exercício de empatia ao mostrar o contexto das ocupações e seus moradores de forma humana, a partir, também, dos seus anseios, sonhos, angústias e reflexões.

Que horas ela volta?

(Foto: Reprodução)

“Que horas ela volta?” conta a história de Val, uma empregada doméstica, vinda de Recife para São Paulo, que mora na casa de seus empregadores de classe média alta.

O filme retrata a vida de Val em relação aos patrões e explora as desigualdades dessa convivência, sobretudo nos pequenos gestos e comportamentos.

Val é tratada como alguém que é “quase da família”, apesar de não usufruir da benesses do lar em que vive, nem mesmo no seu período de descanso. Da mesma forma, sua vida fica inteiramente subordinada aos donos da casa e seu filho.

Outras perspectivas afloram com a chegada de Jéssica, filha de Val, que vai a São Paulo para tentar o vestibular. A garota passa a questionar as hierarquias do cotidiano vivido pela mãe e não respeitar de modo convencional a subordinação vivida por Val.

O filme é retrato de um dos resquícios mais evidentes das relações coloniais e escravocratas brasileiras: o modo como são tratadas as domésticas do país. Suas reflexões promovem um debate necessário para a auto-crítica de uma sociedade ainda extremamente desigual.

E você? Tem mais filmes pra indicar pra gente? Posta aqui nos comentários pra gente produzir mais listas pra vocês!

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